Fundação Leão XIII
 

Notícia  
Luciana Calaça - Quando o silêncio grita: o alerta urgente contra a violência à pessoa idosa
13/06/2025 - 14h31

Eles carregam histórias, sabedoria, cicatrizes e afetos. Deveriam ser cuidados com carinho e respeito, mas estão sendo vítimas de um ciclo de violência cruel e silencioso. Neste domingo, 15 de junho, Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, somos chamados a olhar para uma realidade urgente – e chocante.

Em uma das unidades de longa permanência da Fundação Leão XIII, que acolhem pessoas idosas em situação de vulnerabilidade no Estado do Rio de Janeiro, 100% das mulheres residentes já sofreram algum tipo de violência. Todos. Não é exagero, é um alerta. Esse dado, que ecoa como um grito sufocado em nossos corredores, revela uma face perversa de nossa sociedade: a negligência com quem mais precisa.

A violência contra o idoso tem muitas máscaras. Pode ser física, psicológica, negligência, abandono, discriminação – e, de forma cada vez mais frequente, violência patrimonial. Quando bens são tomados sem consentimento, quando pensões são desviadas, quando se vende a casa do idoso sem sua autorização, não se trata apenas de crime: é um ataque à dignidade e à autonomia.

É ainda mais cruel porque, muitas vezes, o agressor está dentro da própria casa – um filho, um neto, alguém de confiança. Como denunciar quem deveria proteger?

Esse tipo de violência rouba mais do que patrimônio. Ela mina a autoestima, isola, adoece. E, em muitos casos, faz com que o idoso perca a capacidade de decidir sobre a própria vida. O que deveria ser uma etapa de reconhecimento e cuidado se torna um tempo de medo e desamparo.

E não para por aí. Os números falam por si:

* A maioria das vítimas de violência contra idosos são mulheres (58,6%), com filhos e filhas sendo os principais agressores (29,5%). O local mais comum das agressões é a própria residência da vítima (71,5%), e grande parte dos casos é recorrente (35,8%)

*As denúncias de violência física contra idosos aumentaram 106% de janeiro a maio de 2023 em relação ao ano anterior, segundo o Disque 100.

*Os casos de abuso psicológico subiram 40%.

* As denúncias de abandono de idosos cresceram 855% em 2023.

O abandono também é uma forma brutal de violência. E tão real quanto a agressão física. Quando faltam cuidados, remédios, atenção, ou mesmo um prato de comida na hora certa, o idoso sente na pele – e na alma – o desprezo de um mundo que parece ter pressa demais para quem anda mais devagar.

Na Fundação Leão XIII, lidamos com essas histórias todos os dias. Reerguer essas vidas é um trabalho que exige cuidado, estrutura, paciência e, acima de tudo, humanidade. Cada idoso acolhido é uma biografia resgatada. Um olhar que volta a ter brilho. Um nome que deixa de ser número.

Mas essa responsabilidade não é só nossa. É de toda a sociedade. Do vizinho que ouve gritos, do agente de saúde que percebe um machucado, do caixa do banco que desconfia de uma assinatura forçada. Cada um de nós pode – e deve – ser parte da rede de proteção.

A violência contra a pessoa idosa é crime e precisa ser denunciada. O silêncio não protege. O silêncio perpetua.

Neste domingo, convidamos você a fazer mais do que lembrar a data. Faça parte do movimento por empatia, respeito e justiça. Acolher, escutar, respeitar e denunciar são atitudes que salvam vidas.

A Fundação Leão XIII segue firme na missão de garantir dignidade a quem tanto já contribuiu com a sociedade. E reforça: todo dia é dia de cuidar. Toda denúncia é um passo para romper o ciclo da violência. Que a indignação nos mova. E que o amor pelo próximo nos guie.

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Jornal O Dia




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